Por que fortalecer o boicote a Israel na Copa

30/06/2014 - Como megaevento destinado a garantir lucros a banqueiros e empreiteiros, enquanto as desigualdades sociais se perpetuam, a Copa do Mundo de 2014 no Brasil tornou-se uma grande vitrine a investimentos. 

Diante da perda de mercados na Europa, em função da campanha de BDS (boicotes, desinvestimento e sanções) a Israel, esse estado que ocupa a Palestina visa ampliar seu mercado na América Latina – tendo como porta de entrada o Brasil. Assim, enxerga na Copa uma grande oportunidade. Em tempos de repressão às manifestações por conta da Copa e criminalização dos movimentos sociais e populares, seu grande produto para exportação – as chamadas tecnologias de defesa e de segurança – tem sido saudado pelo governo brasileiro. O mesmo governo que utiliza a retórica de ser pró-palestino, na prática, tornou-se o segundo maior importador de armas de Israel, as quais são testadas, antes de vendidas, nos verdadeiros laboratórios humanos que se converteram os palestinos, diante da colonização, limpeza étnica e apartheid a que estão submetidos.

Assim, o governo brasileiro é cúmplice e contribui para manter um quadro em que os palestinos que vivem desde 1948 sob o Estado de Israel, constituído naquele ano como “estado judeu” – cerca de 1,5 milhão (20% do total da população que ali se encontra) – enfrentam discriminação cotidiana. Apesar de terem direito a voto, não têm reconhecidos os mesmos direitos humanos que o restante da população, por não serem judeus. Contra eles, há 30 leis racistas. Há ainda dezenas de aldeias onde vivem que sequer são reconhecidas pelo Estado, onde não chegam serviços básicos, como água e energia elétrica. E os 5 milhões que vivem em campos de refugiados a um raio de 150km da Palestina histórica estão impedidos do direito legítimo de voltar as suas terras e propriedades, assim como os milhares que vivem na diáspora.

Além disso, os 3,9 milhões que vivem nos territórios ocupados militarmente por Israel em 1967 – ou seja, Gaza, Cisjordânia e Jerusalém Oriental – não podem transitar livremente entre as cidades da Palestina, submetidos a uma diferenciação nas cores de placas de automóveis e documentos de identidade. Há estradas exclusivas para colonos judeus e uma série de aparatos, como muros, cercas, checkpoints, que impedem ou dificultam sua circulação, garantem a colonização sobre as terras árabes e o controle militar por parte da potência ocupante. 

A jornalista Naomi Klein denuncia em seu livro “A doutrina do choque – a ascensão do capitalismo de desastre” que sobretudo após os malfadados acordos de Oslo entre a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) e Israel, em 13 de setembro de 1993, as tecnologias militares tornaram-se o motor da economia do estado sionista – com 70% dessas voltadas à exportação. Israel passou a se apresentar ao mundo, nas palavras da jornalista, “como uma espécie de shopping center de tecnologias de segurança nacional”. Em seu livro, a autora afirma ainda que, ao final de 2006, ano da recente invasão de Israel ao Líbano, a economia do estado sionista, baseada fortemente na exportação militar, expandiu-se vertiginosamente (8%), ao mesmo tempo em que acentuou-se a desigualdade social dentro da própria sociedade israelense e as taxas de pobreza nos territórios palestinos alcançaram índices alarmantes (70%).

Acordos no Brasil
É nesse cenário que os contratos militares entre Israel e Brasil vêm sendo firmados. Tais vêm sendo facilitados por um acordo de cooperação de segurança firmado entre a potência que ocupa a Palestina e o Executivo Federal em novembro de 2010. Fortalecendo essa parceria, as Forças Armadas brasileiras abriram um escritório em Tel Aviv, atualmente capital de Israel, em 2003. E tem havido constantes intercâmbios, com delegações daqui sendo enviadas para Israel e de lá sendo acolhidas no território nacional – o qual tem servido como ponte para que empresas israelenses entrem em contato com países latino-americanos, conforme declarações dadas publicamente por autoridades brasileiras.

Complementa esse apoio a instalação no País de indústrias especializadas em tecnologia de defesa, como a israelense Elbit Systems em Porto Alegre (RS). A Embraer (Empresa Brasileira de Aeronáutica) mantém contratos com tal companhia, que constrói os famosos Vants (ve¬ículos aéreos não tripulados) utilizados nos ataques à faixa de Gaza. É uma das 12 companhias envolvidas na construção do muro do apartheid, na Cisjordânia, na Palestina ocupada militarmente por Israel. Os Vants Hermes 900, desenvolvidos por essa empresa, serão usados em “missões de segurança” durante os jogos da Copa do Mundo . Para o megaevento, o Hermes 900 é equipado com um novo e avançado sistema de coleta de inteligência operacional.

No Brasil há 15 anos, a empresa se faz presente por meio das subsidiárias AEL, Periscópio Equipamentos Optrônicos S/A e Ares Aeroespacial. Através dessa última, recentemente, a Elbit ganhou dois novos contratos milionários com o Exército brasileiro. E o Governo do Rio Grande do Sul assinou um acordo com Israel em abril de 2013 para expandir sua presença no Brasil, com um projeto de centro aeroespacial baseado na AEL em Porto Alegre. Esse projeto conta com financiamento do governo brasileiro – estavam previstos R$ 19,4 milhões, via Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), dos quais até o momento foram liberados cerca de R$ 5 milhões. Essa expansão conta ainda com o aval da Prefeitura de Porto Alegre. 

Com isso, a capital gaúcha pode vir a se tornar o polo de pesquisa militar israelense mais importante no exterior. Mais outros três contratos militares foram firmados somente em 2013, para controle de fronteiras (Sisfron), drones e controle aéreo, com financiamento do governo federal. Ainda para a Copa, todo o sistema de controle e segurança em um dos estádios construídos para o megaevento, o Arena Pantanal, em Cuiabá, é fornecido pela empresa israelense Risco Group.

Os governos paulista e fluminense também têm firmado acordos com Israel, para compra de tecnologias militares. O Rio de Janeiro, por exemplo, comprou oito novos caveirões (blindados usados pelo Batalhão de Operações Policiais Especiais – Bope) e São Paulo negociou a aquisição de óculos com microcâmeras acopladas para envio de informações em tempo real ao banco de dados da polícia. Israel também tem oferecido treinamento às forças de repressão brasileiras. Tecnologias e “capacitação” que são utilizadas no genocídio da população pobre e negra no Brasil e na repressão diante das manifestações legítimas que têm tomado as ruas do País.

A campanha
Diante disso, pressionar os governos estaduais e brasileiro a que rompam unilateralmente, de imediato, esses acordos é objeto crucial da campanha por BDS no Brasil, lançada em 20 de setembro de 2011 pela Frente em Defesa do Povo Palestino – a qual o PSTU integra. Além disso, demanda pelo fim da cooperação acadêmica e cultural com Israel; o boicote a produtos oriundos da potência que ocupa a Palestina, bem como a adesão à iniciativa denominada Pinkwashing, que atua na denúncia de propaganda israelense de “tolerância” aos LGBTs de origem judaica, usada como forma de justificar e desviar as atenções sobre os crimes cometidos contra os palestinos.

A campanha atende a chamado feito pela sociedade civil palestina em 2005, de que se promovam boicotes, desinvestimento e sanções a Israel até que se atendam as reivindicações fundamentais do povo que vive sob apartheid e ocupação, para que haja justiça. Entre elas, o fim imediato da ocupação militar e colonização de terras árabes e a derrubada do muro do apartheid na Cisjordânia, que vem sendo construído desde 2002, separa famílias, impede o direito de ir e vir dos palestinos e anexa mais terras a Israel; a garantia de igualdade de direitos civis a todos os habitantes do território histórico da Palestina, independentemente de religião ou etnia; e o respeito ao direito de retorno dos milhares de refugiados palestinos as suas terras e propriedades, das quais vêm sendo expulsos desde a nakba palestina (que significa catástrofe, como é chamada pelos árabes a criação do Estado de Israel em 1948).

Durante as lutas na Copa, em que se denunciam as injustiças como legado do megaevento, portanto, essa é mais uma bandeira a ser levantada: o fim imediato dos acordos militares e comerciais com Israel.

Comentários

  1. Vao pra Israel e depois me digam onde ha apartheid, discriminacao e essas besteiras todas q vcs dizem. Milhares de sirios morrem todos os dias e ninguem eh contra participacao da Siria em lugar nenhum. Bonito, hein..

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